quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Dia de Esperança

31 de dezembro - Dia da Esperança

31 de dezembro - Dia da esperança
Imagem: pensologoescrevo.com.br

Não é por acaso que o último dia do ano foi escolhido para ser o dia da esperança! Ser esperançoso é uma postura que se encaixa em qualquer momento, mas o fim e o início de ciclos são ocasiões em que, comumente, são renovadas as expectativas de dias melhores.

A esperança é uma escolha emocional, não racional! É um ato de fé, que dispensa fatos e argumentos racionais.
Para os cristãos, é a segunda das três virtudes teologais (virtudes que têm como origem o próprio Deus e são inseridas nas pessoas como graça santificante e presença do Espírito Santo nas faculdades humanas).  

Tenha esperança !
Imagem: ieq31.com.br

Os sarcásticos afirmam que “a esperança é a última que morre, mas é a primeira que adoece!”. Não deixa de haver um fundo de verdade nisso... muitos perdem a esperança rapidamente diante de situações que parecem sem solução. Nessas ocasiões é que a tal da esperança é um bálsamo que fortalece e cura o espírito. Se parece não haver possibilidade de ganho, não há o que perder em continuar tentando e acreditando num bom resultado, contra o óbvio, contando com a sorte ou o acaso.

Vamos renovar hoje e sempre a esperança na vida, até que a morte nos separe!

Esperança abre caminhos !
Imagem: eduardoleandroalves.blogspot.com.br

Alguns conceitos sobre “esperança”, que pesquisei nos dicionários:
- Confiança na possibilidade de que alguma coisa poderá acontecer;
- Ato de esperar o que se deseja;
- Expectativa;
- Fé.

A esperança é uma boa ideia !
Imagem: pedrasverdes.blogspot.com.br

Verde – A cor da esperança

A cor verde significa esperança, liberdade, saúde e vitalidade. O verde simboliza também a natureza, a juventude e o dinheiro.
Estando associado à natureza viva, o verde simboliza crescimento, renovação e plenitude.
O verde acalma e traz equilíbrio ao corpo e ao espírito. O seu uso em momentos de depressão e tristeza pode ser reconfortante e estimulante.
Nos semáforos, o verde é sinal indicativo para seguir em frente, o que é uma ótima associação com a esperança e o otimismo.

Sua passividade e até neutralidade diante dos acontecimentos, torna o verde ideal para preencher os espaços hospitalares, já que não interfere no estado emocional dos pacientes. Em alguns estudos é mencionado como terapêutico, pois induz ao relaxamento e sensação de segurança.
É a cor do equilíbrio em muitos sentidos. Ela é focalizada perfeitamente na retina e ainda se encontra exatamente no meio no espectro cromático. É considerada "o ponto ideal de equilíbrio da mistura do azul com o amarelo, cores opostas e diferentes entre si".

Lembrando que conceitos são associações relativas a determinados tempos espaços. Na Idade Média o verde era a cor da desordem e transgressão, por isso foi entre os séculos XVII e XIX a cor das revoluções.
No misticismo, o verde é a cor do fogo secreto dos alquimistas.

Esperança & Mudança
Imagem: semeandovida.org

Âncora – O símbolo da esperança

“Temos esta esperança como âncora da alma, firme e segura.”
( Hebreus 6:19 )

Para os cristãos, a âncora era um símbolo importante, representando a estabilidade e a segurança. Nas catacumbas romanas, onde cristãos foram mantidos prisioneiros, três símbolos eram vistos nas paredes: o peixe (ICHTHUS, as iniciais de “Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador”), a pomba (como símbolo do Espírito Santo) e a âncora (símbolo da esperança).
Desta crença, foi herdada no ocidente a âncora como símbolo da esperança, instrumento de segurança e salvação diante das tempestades.

Renove a Esperança !
Imagem: semeandovida.org

Reflexões e informações sobre a esperança:

Cultura Mix
A importância da esperança

A filosofia de João de Freitas
Dia da Esperança

Mundo Cor
Verde: a cor da esperança, equilíbrio e conhecimento

Dia de Esperança
Imagem: joelrodrigues.blogspot.com.br

Para conhecer outras datas comemorativas, acesse:

Ponteiro
Relação de datas comemorativas
http://www.ponteiro.com.br/todas_datas.php 

sábado, 13 de dezembro de 2014

Natal de 1914

A trégua no Natal de 1914

A Trégua do Natal foi um armistício informal ocorrido entre alemães e aliados (ingleses e irlandeses, bem como franceses em menor número) ao longo da Frente Ocidental no Natal de 1914, durante a Primeira Guerra Mundial.

Alemão e inglês durante a Trégua de Natal de 1914 

Finalmente parou de chover. A noite está clara, com céu limpo, estrelado, como os soldados não viam há muito tempo. Ao contrário da chuva, porém, o frio segue sem dar trégua. Normal nesta época do ano. O que não seria normal em outros anos é o fedor no ar. Cheiro de morte, que invade as narinas e mexe com a cabeça dos vivos – alemães e britânicos, inimigos separados em suas linhas de trincheiras por 80, 100 metros no máximo. Entre eles está a “Terra de Ninguém”, assim chamada porque ninguém consegue mantê-la sob seu controle ou sobreviver ali muito tempo. Cadáveres de combatentes de ambos os lados compõem a paisagem com cercas de arame farpado, troncos de árvores queimadas e crateras abertas pelas explosões da artilharia. O barulho das granadas é ensurdecedor, mas no momento não se ouve nada. Nenhuma explosão, nenhum tiro. Nenhum recruta agonizante gritando por socorro. Nada.
E de repente o silêncio é quebrado. Das trincheiras alemãs, ouve-se alguém cantando. Os companheiros fazem coro e logo há dezenas, talvez centenas de vozes no escuro. Cantam "Stille Nacht, Heilige Nacht". Atônitos, os britânicos escutam a melodia sem compreender o que diz a letra. Mas nem precisam: mesmo quem jamais a tivesse escutado descobriria que a música fala de paz. Em inglês, ela é conhecida como "Silent Night"; em português, foi batizada de "Noite Feliz". Quando a música acaba o silêncio retorna, mas por pouco tempo.
"Bom, velho Fritz!", grita um britânico. Um alemão responde com "Feliz Natal, ingleses!", seguido de palavras num inglês arrastado: "Nós não atiramos, vocês não atiram".

Isto aconteceu em algum lugar de Flandres, na Bélgica, em 24 de dezembro de 1914. A paz não havia sido acertada nos gabinetes dos políticos ou generais; ela surgiu nas trincheiras, de forma espontânea. É o que diz o jornalista alemão Michael Jürgs em seu livro Der kleine frieden im Grossen Krieg – Westfront 1914: Als deutsche, franzosen und briten gemeinsam weihnachten Feierten (“A pequena paz na Grande Guerra – Frente Ocidental 1914: Quando alemães, franceses e britânicos celebraram juntos o Natal”).

Alemães e aliados juntos durante a Trégua do Natal de 1914
( 1ª Guerra Mundial )

O primeiro natal da Primeira Guerra Mundial

Nos primeiros meses do conflito então conhecido como Grande Guerra (não se imaginava que uma segunda como aquela seria possível), a propaganda militar conseguiu inflar o orgulho dos soldados de ambos os lados. O fervor patriótico crescia juntamente com o ódio pelos inimigos. Entretanto, em dezembro de 1914, já se percebia que a guerra seria mais destruidora e longa do que se imaginava inicialmente. Na Frente Ocidental, os britânicos haviam perdido 160 mil homens até então; Alemanha e França, 300 mil cada.
Eram péssimas as condições nas trincheiras, onde o odor beirava o insuportável, devido às latrinas descobertas e aos corpos em decomposição espalhados pela Terra de Ninguém (espaço entre as trincheiras adversárias). Os cadáveres atraíam ratazanas aos milhares e, com a fartura de carne, algumas engordavam tanto ao ponto de serem confundidas com gatos. Dormia-se em buracos escavados na parede e era comum acordar assustado no meio da noite, por causa das explosões ou de uma ratazana mordendo sua mão ou rosto. Pior que as ratazanas eram os piolhos. Milhões deles, nos cabelos, barbas e uniformes.
Quando chovia forte, a água subia na altura dos joelhos, causando doenças respiratórias nos invernos gelados, que chegavam a temperaturas abaixo de zero. Os franco-atiradores e seus fuzis com lunetas estavam sempre à espreita, tornando arriscado levantar a cabeça acima do parapeito das trincheiras. O soldado entrincheirado passava longos períodos sem ter o que fazer. Dias de tédio sentado no inferno.

O cotidiano de horrores foi minando a vontade de lutar e valorizando as pequenas gentilezas e confortos! Uma semana antes do Natal já havia sinais disso. Foi assim em Armentières, na França, perto da fronteira com a Bélgica. Soldados alemães arremessaram um pacote para a trincheira britânica. Cuidadosamente embalado, trazia um bolo de chocolate e dentro, escondido, um bilhete. Os alemães pediam um cessar-fogo naquela noite, entre 19h30 e 20h30. Era aniversário do capitão deles e queriam surpreendê-lo com uma serenata. Os britânicos concordaram e, na hora da festa inimiga, sentaram no parapeito para apreciar a música. Aplaudidos pelos rivais, os alemães anunciaram o encerramento da serenata – e da trégua – com tiros para cima. Em meio à barbárie, esses pequenos gestos de cordialidade significavam muito.
Ainda assim, era difícil imaginar o que estava por vir. Na noite de 24 de dezembro de 1914, em Fleurbaix, na França, uma visão deixou os britânicos intrigados: iluminadas por velas, pequenas árvores de Natal enfeitavam as trincheiras inimigas. A surpresa aumentou quando um tenente alemão gritou em inglês: “Senhores, minha vida está em suas mãos. Estou caminhando na direção de vocês. Algum oficial poderia me encontrar no meio do caminho?” Silêncio. Seria uma armadilha? Ele prosseguiu: “Estou sozinho e desarmado. Trinta de seus homens estão mortos perto das nossas trincheiras. Gostaria de providenciar o enterro”. Dezenas de armas estavam apontadas para ele. Mas, antes que disparassem, um sargento inglês, contrariando ordens, foi ao seu encontro. Após minutos de conversa, combinaram de se reunir no dia seguinte, às 9 horas da manhã.
No dia seguinte, 25 de dezembro, soldados carregando apenas pás escalaram suas trincheiras e encontraram os inimigos no meio da Terra de Ninguém. Era hora de enterrar os companheiros, mostrar respeito por eles – ainda que a morte ali fosse um acontecimento banal. O capelão escocês J. Esslemont Adams organizou um funeral coletivo para mais de 100 vítimas. Os corpos foram divididos por nacionalidade, mas a separação acabou aí: na hora de cavar, todos se ajudaram. O capelão abriu a cerimônia recitando o salmo 23. “O senhor é meu pastor, nada me faltará”, disse. Depois, um soldado alemão, ex-seminarista, repetiu tudo em seu idioma. No fim, acompanhado pelos soldados dos dois países, Adams rezou o Pai-Nosso. Outros enterros semelhantes foram realizados naquele dia, mas o de Fleurbaix foi o maior de todos.
Aquela situação por si só já era inusitada: alemães e britânicos cavando e rezando juntos. Mas o que se viu depois foi uma sequência de confraternizações entre tropas inimigas numa escala sem precedentes numa guerra. Em Neuve Chapelle, na França, os soldados indicavam discretamente para seus inimigos a localização das minas subterrâneas. Em Pervize, na Bélgica, homens que na véspera trocavam tiros, agora trocavam presentes: tabaco, vinho, carne enlatada e sabonete. Uns disputavam corridas de bicicleta, outros caçavam coelhos. Uma luta de boxe entre um escocês e um alemão foi esquentando ao ponto de ser interrompida antes que os dois se matassem.
Nos dias 25 e 26 foram organizadas animadas partidas de futebol. A “bola” em muitos casos foi apenas um monte de palha amarrado com arame, ou uma lata de conserva vazia. Capacetes, tocos de madeira ou o que estivesse à mão fizeram a função das traves. Foi assim em Wulvergem, na Bélgica, onde o jogo foi só pelo prazer da brincadeira e ninguém prestou atenção no resultado. Mas houve também partidas “sérias”, com direito a juiz e a troca de campo depois do intervalo. Numa delas, que se tornou lendária, os alemães derrotaram os britânicos por 3 a 2. A vitória foi polêmica: o terceiro gol alemão teria sido marcado em posição irregular (o atacante estava impedido) e a partida, encerrada depois que a bola – esta de verdade, feita de couro – furou ao cair no arame farpado.
A trégua, apesar de generalizada ao longo dos 760 quilômetros da Frente Ocidental (do Mar do Norte aos Alpes da fronteira suíça), concentrou a maioria das confraternizações nos 50 quilômetros entre Diksmuide (Bélgica) e Neuve Chapelle (França). Os soldados britânicos e alemães descobriam ter em comum o medo da morte e a saudade de casa. Já franceses e belgas eram menos afeitos a tomar parte no clima festivo, pois seus países haviam sido invadidos e para eles era mais difícil apertar a mão do inimigo.
Em alguns lugares a luta continuou durante todo o dia de Natal, enquanto em outros foi feito apenas o trabalho de recolher os corpos dos mortos, não havendo ataques nem confraternizações.

Em Wijtschate, na Bélgica, o jovem cabo austríaco Adolf Hitler, lutando ao lado dos alemães na 16ª Reserva Bávara de Infantaria, queixava-se do fato de seus companheiros cantarem com os britânicos, em vez de atirarem neles. Hitler não era o único militar insatisfeito com aquela situação! Dos quartéis-generais, os comandantes mandaram ordens contra qualquer tipo de confraternização. Quem desrespeitasse se arriscava a ir à corte marcial, podendo ser fuzilado por traição ou covardia. A ameaça fez os soldados voltarem para as trincheiras. Durante os dias seguintes, muitos ainda se recusavam a matar os adversários. Para manter as aparências, continuavam atirando, mas sempre longe do alvo.
A trégua velada resistiu ainda por um tempo. Até março de 1915, alemães e britânicos entrincheirados em Festubert, na França, faziam de conta que a guerra não existia – ficava cada um na sua. Mas a lembrança das confraternizações foi aos poucos cedendo espaço para a luta pela sobrevivência e para as pressões dos altos escalões militares. No Natal de 1915 aconteceram novas tréguas na Frente Ocidental, mas numa proporção muito menor, em pontos isolados, sem divulgação e que mal duraram no dia 25, em poucos casos também o dia 26, reiniciando depois a rotina de tensão e carnificina da guerra.

Alemães preparando decoração de natal em uma trincheira na França
( Natal de 1914 )

Alemães cantando em volta de uma árvore de natal  
( Dezembro de 1914 )

A paz na guerra durante a 1ª Guerra Mundial

Nos primeiros meses da imóvel guerra de trincheiras – após a nítida impossibilidade de conquistar e manter trincheiras inimigas – as tréguas se tornaram frequentes, não acontecendo apenas no período de Natal, e refletiam um clima crescente da atitude do "viva e deixe viver", onde unidades inimigas evitavam um comportamento abertamente agressivo e, muitas vezes, realizavam pequenas confraternizações, promovendo conversas ou troca de cigarros. Em alguns setores havia cessar-fogos ocasionais e negociados localmente, para que os soldados pudessem resgatar os companheiros feridos ou mortos, enquanto em outros vigorava um acordo informal para não atirar enquanto os homens descansavam no período noturno. A trégua de Natal de 1914 foi particularmente notável devido ao grande número de homens envolvido – cerca de 100 mil militares – ocorrendo de diferentes formas e períodos ao longo de diversos lugares na Frente Ocidental.

Esta trégua é explicada, em grande parte, pelo pouco tempo de combates. Aproximadamente cinco meses separavam o início da guerra em julho do natal em dezembro. A mentalidade dos militares de baixa patente, voluntários e convocados, ainda não estava muito entorpecida e embrutecida pela rotina de matanças, onde a luta pela sobrevivência passaria a tomar quase todo o tempo e energia disponíveis. O clima de gentileza natalina, típico dos tempos de paz, ainda encontraria em 1914 espaço em meio à guerra nos espíritos de muitos combatentes, baseado no ainda recente convívio com as famílias e amenidades da vida civil.

Futebol no dia de natal entre alemães e aliados
( 1915 )

Iniciativas de paz foram encorajadas dias antes do primeiro Natal da Primeira Guerra Mundial!
O Papa Bento XV, em 7 de dezembro de 1914, emitiu carta incentivando uma trégua oficial entre os governos em guerra, pedindo "que as armas possam cair em silêncio, ao menos na noite em que os anjos cantam". O apelo foi recusado pelas autoridades, mas cumprido informalmente pelos militares de baixa patente.
Um grupo de 101 mulheres britânicas divulgou a “Carta Aberta de Natal” com uma mensagem pública de paz dirigida “às mulheres da Alemanha e da Áustria” incentivando que estas pressionassem seus governos por uma trégua durante o Natal de 1914.

A paz não aconteceu por conta de governos, mas sim por uma soma de desejos e ações individuais. Ao anoitecer de 24 de dezembro de 1914 na região de Ypres, na Bélgica, os tiros trocados começam a rarear e os britânicos perceberam que os alemães estavam cantando músicas natalinas. Além disso, decoraram suas trincheiras com árvores de natal e velas acesas, denunciando assim suas posições. Os britânicos responderam cantando suas próprias canções. 
Os aliados viram então alemães desarmados saírem de suas trincheiras, tirarem seus capacetes e pedirem uma trégua. Surpresos, os aliados aceitaram a oferta, também saíram de suas trincheiras e os adversários se encontraram na Terra de Ninguém, onde trocaram alguns presentes, como tabaco, alimentos, bebidas alcoólicas, ou recordações como botões e chapéus das fardas.
No dia 25 de dezembro de 1914, as confraternizações continuaram na Terra de Ninguém com músicas, troca de presentes e jogos de futebol. A trégua foi aproveitada também para reabastecer tropas e enterrar os mortos.

O capitão inglês Bruce Bairnsfather, que servia em Wez Macquart (França) durante o natal de 1914, escreveu:
"Eu não perderia aquele único e estranho dia de Natal por nada deste mundo... encontrei um oficial alemão, um tenente penso eu, e sendo eu um colecionador, disse a ele que havia gostado de alguns de seus botões. Eu trouxe meu cortador de arame, retirei um par de botões e coloquei-os no bolso. Então eu lhe dei dois dos meus em troca... depois reparei num dos meus artilheiros, que era barbeiro amador na vida civil, cortando em troca de alguns cigarros o cabelo bastante longo de um alemão, que estava pacientemente ajoelhado no chão, enquanto a navalha de corte deslizava em volta de seu pescoço."

A confraternização teve alguns riscos: alguns soldados foram mortos pelas forças da oposição em algumas regiões, até que as mesmas percebessem não se tratar de um ataque e cessarem o fogo. Na maioria dos setores da Frente Ocidental as batalhas reiniciaram no dia seguinte ao natal.
Em um destes setores, assim foi descrito o reinício dos combates:
"O oficial inglês deu três tiros para cima e os ingleses ergueram uma bandeira escrito “Feliz Natal”. Os alemães ergueram um lençol com os dizeres “Obrigado”. Um oficial alemão levantou-se na sua trincheira, fez uma saudação solene, e deu dois tiros para cima. A guerra estava ativa novamente."
Em alguns lugares a trégua de 1914 prosseguiu até o Ano Novo.

Aliados e alemães juntos durante a Trégua de Natal em 1914
( Primeira Guerra Mundial )

Notícias sobre a Trégua de Natal de 1914

Os acontecimentos da trégua só foram relatados depois de uma semana, devido à censura não oficial da imprensa em vigor. O silêncio foi quebrado pelo jornal estadunidense New York Times, em 31 de dezembro de 1914, e imediatamente seguido pelos jornais britânicos, imprimindo inúmeros relatos em primeira mão de soldados em campo, obtidos a partir de cartas para suas famílias, com editoriais sobre "uma das maiores surpresas de uma guerra surpreendente". Em 8 de janeiro de 1915 foram publicadas fotografias e os jornais britânicos The Daily Mirror e Daily Sketch divulgaram na primeira página fotos de soldados britânicos e alemães juntos entre as linhas de combate. Os relatos foram favoráveis, com o New York Times apoiando a "falta de agressividade" sentida por ambos os lados e o The Daily Mirror lamentando que "o absurdo e a tragédia" iria recomeçar.
A cobertura da imprensa na Alemanha foi mais moderada, com alguns jornais criticando aqueles que tinham tomado parte no acontecimento e não foram publicadas quaisquer imagens. Na França, a censura mais controlada dos meios de comunicação assegurou que as notícias da trégua fossem difundidas apenas através das cartas dos soldados da frente a seus familiares e amigos, ou contadas por homens feridos em hospitais. A imprensa francesa acabou por ser obrigada a responder aos rumores crescentes, reimprimindo um aviso do governo de que a confraternização constituía traição. No início de janeiro de 1915 foi publicada uma mentirosa declaração oficial francesa sobre a trégua, alegando que havia acontecido em setores restritos da frente britânica, sendo pouco mais foi do que uma troca de canções que rapidamente degenerou em tiroteio.

Jornal inglês The Daily Mirror - Trégua no natal de 1914
( "Um grupo histórico: soldados britânicos e germânicos fotografados juntos" )

Os natais durante a Primeira Guerra Mundial

Nos meses seguintes à trégua do natal de 1914, houve algumas tentativas esporádicas de tréguas: uma unidade alemã tentou sair de suas trincheiras sob uma bandeira branca no domingo de Páscoa de 1915, mas desistiram diante da recusa dos britânicos à sua frente; em novembro de 1915, uma unidade alemã da Saxônia confraternizou brevemente com um batalhão inglês de Liverpool.
No período de Natal de 1915 houve ordens explícitas por parte dos altos comandos de ambos os lados para evitar qualquer repetição da trégua e confraternizações como no Natal anterior, com ameaças de julgamento por traição. Os comandantes aliados incentivaram suas unidades a atacar as linhas inimigas com metralhadoras e artilharia, além de inibirem o contato com o inimigo através de barragens de artilharia ao longo da Terra de Ninguém durante todo o dia de Natal. No entanto, a proibição não foi completamente eficaz, havendo ainda um pequeno número de tréguas breves.

No Natal de 1915, algumas unidades realizaram um novo cessar-fogo na Frente Ocidental, mas a trégua ocorreu em pontos isolados e não foi tão ampla e divulgada como em 1914.
Uma testemunha ocular de uma das tréguas, o capitão inglês Llewelyn Wyn Griffith, fez notar que após uma noite de troca de canções, na madrugada do dia de Natal de 1915, viu uma "corrida dos homens de ambos os lados e uma troca apressada de presentes" antes de serem rapidamente chamados de volta por seus oficiais. No breve contato foram feitas propostas para manter o cessar-fogo durante aquele dia e jogar uma partida de futebol, para a qual fizeram apressadamente uma improvisada bola. Griffith afirma que a trégua “Não chegou a acontecer, uma vez que o comandante do batalhão [inglês] foi ameaçado de insubordinação e recebeu ordens para retomar o combate na parte da tarde”.
Em um setor britânico, uma trégua curta no natal de 1915 para enterrar os mortos entre as linhas de trincheiras levou o comandante da companhia da Guarda Escocesa, Sir Iain Colquhoun, a uma corte marcial por desafiar ordens de não haver tréguas. Embora tenha sido considerado culpado e repreendido oficialmente, sua punição foi rapidamente anulada pelo general Haig, e Colquhoun permaneceu em seu cargo.

Em 1916, após as sangrentas batalhas de Somme e Verdun, e com o início do uso generalizado de gás venenoso, os soldados de ambos os lados não sentiam mais clima para amenidades e a trégua de Natal não voltou a ser realizada.
Nos períodos de natal em 1916 e 1917 as poucas iniciativas alemãs para tréguas não tiveram resposta por parte dos aliados, que realizaram bombardeios de artilharia para gerar tensão e impedir que houvesse pausas no combate. Tropas ao longo de vários setores da Frente Ocidental foram trocadas para impedir que se tornassem familiares ao inimigo. Apesar da pressão dos escalões superiores, durante os períodos natalinos ocorreram iniciativas de muitos militares de baixa patente, de ambos os lados, para o amortecimento das hostilidades, cumprindo as ordens de ataque, mas usando a artilharia em pontos que evitassem baixas inimigas.

Tropa alemã sob ataque de artilharia 
( Primeira Guerra Mundial )
A partir de 1915 os comandantes aumentavam a ação da artilharia próximo ao Natal 
para evitar as confraternizações.

Natal de 1914 : Um exemplo que não deve ser esquecido

Durante a Primeira Guerra Mundial, os vistosos e coloridos uniformes dos combatentes foram definitivamente substituídos pelas discretas fardas dos que rastejavam na lama, se escondendo da morte indefensável vinda das distantes metralhadoras.
A trégua no natal de 1914 foi um demonstrativo do espírito cavalheiresco nos campos de batalha que ainda resistia na mentalidade dos europeus, como resquício dos séculos passados. Foi um último suspiro de uma concepção que associava a guerra mais à coragem, astúcia e honra do que à sobrevivência pela sorte, numa nova realidade que surgia da morte aos milhões e de uma incansável indústria bélica que, com novidades mortais, determinava uma velocidade e capacidade de destruição nunca vistas.
O Natal de 1914 se mostra um inspirador exemplo de que, mesmo nas guerras, são possíveis atitudes de fraternidade e respeito entre as pessoas.

Para que não se apague a memória dessa possibilidade de nobreza diante da brutalidade, em 11 de novembro de 2008 um Memorial para a Trégua do Natal de 1914 foi inaugurado no parque público da vila francesa de Frelinghien, na fronteira da França com a Bélgica. É o primeiro memorial oficial para este evento notável.
O dia da inauguração começou com uma missa na igreja da vila. Depois da missa – que incluiu a música “Stille Nacht” (a versão alemã de “Noite Feliz”) – os moradores e participantes se dirigiram ao parque público na outra extremidade da vila para a inauguração da placa do memorial. Após a inauguração, houve um almoço no ginásio esportivo da vila, seguido por um jogo de futebol entre representantes das tropas alemãs e aliadas.
Antes do jogo de futebol foi servido um barril de cerveja, relembrando 1914, quando os alemães – que ocupavam a região da cervejaria da aldeia – no dia de natal rolaram um barril com cerveja para as forças aliadas, iniciando a trégua local. No início da partida, os capitães dos times trocaram um aperto de mão, charutos e pudim de natal (de ameixa e frutas secas), como os soldados fizeram em 1914. Em 2008 os representantes alemães venceram o futebol por 2 a 1.
Observação: A trégua nesta aldeia em 1914 não incluiu um jogo de futebol na ocasião. Isso aconteceu mais ao sul (embora ainda dentro dos limites da comuna de Frelinghien), entre alemães e tropas aliadas compostas por escoceses e ingleses.

Inauguração do Frelinghien Memorial celebrando a Trégua do Natal de 1914
( 11 de novembro de 2008 )

Os figurantes Peter Knight (inglês à esquerda) e Stefan Langheinrich (alemão è direita), descendentes dos veteranos da 1ª Guerra Mundial, apertam as mãos em 11 de novembro de 2008, na inauguração do Memorial para a Trégua do Natal de 1914.

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O Natal de 1914 foi uma ocasião notável na história das guerras! É tão raro quanto louvável entre inimigos uma trégua espontânea e ampla, iniciada pelos militares de baixa patente. Até então tal fato não voltou a se repetir! O escritor britânico de ficção científica Herbert George Wells, autor do livro A Máquina do Tempo, escreveu em agosto de 1914 um ensaio onde afirmava que a aquela seria "a guerra para acabar com todas as guerras". Wells se enganou! Os momentos de fraternidade, como os do Natal de 1914, seriam escassos na Europa, que em breve seria dilacerada por outra guerra, ainda mais destruidora, a partir de 1939.

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Vídeo



A trégua do natal de 1914 inspirou Paul McCartney a compor a música “Pipes of Peace” ("Flautas da Paz" em português) e a realizar esse vídeo clip revivendo o episódio.
Esta canção é um apelo pela paz mostrando que, independentemente da roupa que vestimos ou da língua que falamos, somos todos membros da uma mesma grande nação: a raça humana.

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Fontes de consulta:

Wikipédia
Trégua de Natal

Info Escola
Trégua de natal na Primeira Guerra

Guia do estudante
Noite feliz na Terra de Ninguém: Natal de 1914

Tok de História
O milagre do natal de 1914

Trégua do Natal de 1914
Frelinghien Memorial
(Em inglês – Usar tradutor)

Flickr
Fotos da inauguração do Frelinghien Memorial

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Para mais informações sobre a Primeira Guerra Mundial, acesse:

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